* Émerson NascimentoDepois de ler na imprensa regional comentários diversos (porém unânimes) sobre o empréstimo de dinheiro que o Brasil fez a Cuba, percebi que um fator fundamental da visita do presidente Lula ao amigo dele, presidente Fidel Castro, passou desapercebido por muitos dos comentaristas: Lula não fez só uma viagem para visitar um amigo, tampouco emprestou dinheiro a Cuba de graça. Na bagagem de Lula estavam dezenas de industriais brasileiros, levados pelo próprio presidente e motivados por ele a instalarem em Cuba filiais de suas empresas: multinacionais brasileiras. O empréstimo e a visita mostraram que Lula é um líder de visão horizontal, um homem que consegue ver além do meramente aparente e está preparando para os industrias brasileiros o mercado mais estratégico do mundo: Cuba. A ilha de Fidel, todos sabem, fica a poucos quilômetros dos Estados Unidos da América, o maior mercado consumidor do mundo. Lula, simplesmente, está construindo para os industriais brasileiros o maior e mais estratégico pátio industrial das américas. É fácil entender. Imaginemos industrias brasileiros fabricando produtos em Cuba para serem exportados para os Estados Unidos e Canadá, sem terem em seus custos a conta da longa viagem de transporte do Brasil à América do Norte. Eliminadas as barreiras alfandegárias, nossos produtos seriam imbatíveis!Em Cuba e no mundo o que se fala hoje é o amanhã pós-castrista. Em palavras mais realistas, o mundo discute o que será de Cuba depois que Fidel morrer e findar a sua era Lembremo-nos que o Grande Comandante está velho e não é eterno. Se há um homem no mundo capaz de influenciar Fidel Castro este homem se chama Lula, isso todos concordam. Lula não se fez de rogado. Está tratando de conquistar a parceria estratégica de Cuba para o Brasil. O presidente Lula está fazendo a parte dele. Cabe agora à indústria nacional fazer a dela e ousar, como ousou o operário que sonhou ser presidente, e conquistar a parte que nos toca deste latifúndio global. Além do mais, com este gesto Lula mostrou que solidariedade e amizade não têm preço e exige sacrifícios de quem faz. Lula deu provas de que não é um político que se esquece dos amigos e companheiros. Deixou claro, mais uma vez, que não se esquece de suas origens, nem dos compromissos que fez. Bom para a gente pobre do Brasil! O presidente mostra mais uma vez ao mundo que a lógica do capitalismo selvagem, interessado apenas em ganhar e ganhar pode ser mudada, e que a solidariedade entre os povos pode e deve vir antes do lucro. Acredito que com essas considerações que o debate sobre o assunto fica ampliado e que as visões sobre as iniciativas internacionais de Lula podem ser reavaliadas. Não foi olhando para o próprio umbigo que Lula chegou a ser presidente, nem será com visão tacanha que vislumbraremos um futuro melhor para o Brasil tampouco o construiremos. O autor é jornalista